Quem nos separará do amor de Cristo?

Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? ... Estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Rm 8, 35.38-39) 

 

Queridos irmãos e irmãs, diante do sofrimento gerado pelas perdas, diante das inúmeras crises pelas quais passamos neste mundo, diante das diversas turbulências e tempestades que muitas vezes tentam assolar nossa vida, esta Palavra renova a nossa alegria e a nossa esperança: nada, absolutamente nada pode nos separar do amor de Deus! O amor de Deus por cada um de nós é irrevogável, inextinguível, ilimitado, inestimável.

Neste sentido, é importante frisar que o sofrimento não é querido por Deus e tampouco uma vingança de Deus devido aos nossos pecados. Afinal, Ele é o Emanuel, o Deus-Conosco, lento para a cólera e cheio de clemência (cf. Sl 102,8) e não gosta de nos ver tristes. O sofrimento é, antes de tudo, consequência dramática do pecado do homem, que gera desordem interna e externa e o afasta do Senhor. É inerente à vida temporal; a Igreja Peregrina sobre esta terra se une aos sofrimentos de Cristo, que carregou sobre Si as nossas dores.

Entretanto, o cristão é chamado a encontrar “o sentido do sofrimento”, isto é, o “para quê” e não o “por que comigo”. Neste sentido, São João Paulo II nos ensina que “Se, efetivamente, a existência do mundo como que abre o olhar da alma à existência de Deus, à sua sapiência, poder e magnificência, então o mal e o sofrimento parecem ofuscar esta imagem, às vezes de modo radical; e isto mais ainda olhando o quotidiano com a dramaticidade de tantos sofrimentos sem culpa e de tantas culpas sem pena adequada. Esta circunstância, portanto – mais do que qualquer outra, talvez -, indica quanto é importante a pergunta sobre o sentido do sofrimento e com que acuidade se devam tratar quer a mesma pergunta, quer as possíveis respostas a dar-lhe. O homem pode dirigir tal pergunta a Deus, com toda a comoção do seu coração e com a mente cheia de assombro e de inquietude; e Deus espera por essa pergunta e escuta-a...” (Carta Apostólica Salvifici Doloris, 9/10).

Com efeito, na busca pelo sentido do sofrimento, podemos encontrar preciosas respostas: (i) o sofrimento nos aproxima de Deus – A Profecia de Isaías assim nos diz: “Todos vós, que estais sedentos, vinde à nascente das águas; vinde comer, vós que não tendes alimento. Vinde comprar trigo sem dinheiro, vinho e leite sem pagar... Buscai o Senhor, já que ele se deixa encontrar; invocai-o, já que está perto” (Is 55,1.6). O alento e remédio para o sofrimento é o encontro pessoal com Cristo, que se dá pela oração, pela leitura das Escrituras, pela meditação, pelos Sacramentos, pela Adoração; (ii) o sofrimento é prova de fé – Enquanto caminhamos neste mundo somos convidados a crescer, a amadurecer a nossa fé, a ganharmos têmpera para nos apresentarmos de pé diante do Cordeiro. São Tiago nos exorta: “Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a provação! Porque, uma vez provado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg. 1, 12 – Bíblia de Jerusalém); (iii) o sofrimento é sacrifício de louvor agradável a Deus – o sofrimento vivenciado como sacrifício espiritual é capaz de reparar brechas e interromper o curso do mal, pois por ele nos unimos aos sofrimentos de Cristo e nos colocamos como intercessores diante de Deus pela conversão dos homens. São Paulo na Carta aos Hebreus nos ensina: “Foi por isso que Jesus, para santificar o povo por seu próprio sangue sofreu do lado de fora da porta. Saiamos, portanto, ao seu encontro fora do acampamento, carregando a sua humilhação. Por meio Dele ofereçamos continuamente um sacrifício de louvor a Deus, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome” (Hb 13, 12-13.15 – Bíblia de Jerusalém); (iv) o sofrimento nos corrige para o céu – Através das situações dolorosas somos lapidados, despimo-nos da autossuficiência, da vaidade e das falsas seguranças, mudamos a mentalidade e a visão de mundo, fazemos kenosis (esvaziamento de si) e nos colocamos sem máscaras ou subterfúgios diante de Deus. São Paulo na II Carta a Timóteo exorta: “Assume a tua parte de sofrimento como um bom soldado de Cristo Jesus... o atleta não recebe a coroa se não lutou segundo as regras” (II Tm 2, 3.5 – Bíblia de Jerusalém). 

Portanto, não joguemos fora nossas lágrimas; demos sentido aos sofrimentos que não raro enfrentamos e, antes de tudo mantenhamos firme a nossa fé diante das adversidades e dores, na certeza de que está conosco o Santo de Israel! E para isso, sejamos suporte uns dos outros, pois em comunidade a fé encontra seu sentido pleno. 

Que Maria Santíssima, a Senhora das Dores e do Perpétuo Socorro, interceda por nós para que nos mantenhamos firmes em nossa fé e em nossa esperança para que nos apresentemos de pé diante do Cordeiro!

Veni Sancte Spiritus!

 

Vinicius Rodrigues Simões

Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL

G.O Jesus Senhor

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